Contextualizando a foto, encontrei essa Cuíca de três linhas na boca do gato Xangô, e após soltar e ver que estava viva, comecei a observar seu caminho. Através dessa imagem, reflito sobre o quanto um momento ou gesto tão simples e pequeno possa rechear-se de sentidos e vitalidade, e indago-me a querer ampliar algumas questões:
– O que faz com que um mesmo horizonte ora tenha brilho e profundidade, ora se ofusque e seja raso de sentidos?
– Que paisagens mentais são essas que adentramos e por tamanha complexidade, perdemos a sutileza e beleza da vida?
Há quem diga que a vida é mais simples do que se aparenta, e de que é a gente mesmo que vai complexificando, construindo barreias e emaranhados de problemas em meio ao cotidiano. Por vezes um mesmo evento é fator de grande felicidade, e em outro momento, gerador de sofrimento. Acho engraçado reconhecer que muitas vezes estamos diante de problemas que a gente mesmo criou. Ao mesmo tempo reflito, pois vivemos em um sistema onde o meio não tende a ser generoso para todos. ☹
Venho percebendo através das escutas clínicas e também de perspectivas pessoais, sobre o quanto as vezes temos de tudo, até demais do necessário, e nos vemos com tão pouco, quase nada. E por momentos com tão pouco, percebemo-nos preenchido de tudo, e naquele instante não precisamos de mais nada.
É, talvez não precisemos de tanto para alcançar um momento de felicidade ou para chegarmos em um estágio de maior tranquilidade. Talvez por momentos nos sintamos cheios de faltas, sensação de vazio, famintos mesmo que de barriga cheia. Talvez muito ou pouco seja só mais uma perspectiva, de necessidades e realidades um tanto quanto individuais.
Que possamos encontrar e distinguir nossos próprios parâmetros, respeitando as diferenças e buscando equilíbrio e responsabilidade com nossas escolhas. Atender mais expectativas pessoais, e menos expectativas alheias. Acordar para as belezas do mundo e se curar. Acordar para o sofrimento do mundo e tentar ajudar. Acredito que foi o que fiz naquele instante com a Cuíca, em ter sido suporte e ao mesmo tempo ter vivido um momento de muita contemplação. Era o que me cabia naquele momento, e me sinto bem.
